sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Carta de uma amiga...

Fuçando uns escritos antigos achei este trecho que era do projeto de um livro que nunca terminei (mais um).


Salvador, xx de abril de XXXX

Ana,

Mais uma vez passei por ele, uma beldade. Não era a primeira vez que eu o desejava, quantas vezes já fui com ele aos céus... Pena que só com o plástico lubrificado do vibrador. Porque estes homens, ou melhor esses meninos, são tão idiotas. Será que não me vêem, será que não notam que eu preciso de sexo e um pouquinho de atenção? Sou uma garota de 18 anos, estou na flor da idade, não creio em deus nem no diabo, toco música alternativa, amo maconha e literatura. Será mesmo que não existe homem à minha altura, um ser da espécie humana do gênero masculino capaz de notar que eu sou interessante, ou no mínimo que eu moro só e transpiro luxúria? Homens façam me um favor: me comam.

Sim, voltando à beldade, dessa vez eu cansei de esperar. Essa história de que se a mulher chamar o cara pra sair ela é “comida fácil” é sim um discurso machista filho da puta. Hoje eu não estava nem aí pra nada. Eu quero sexo. No fundo queria um amante de verdade, mas como isso é quase impossível no meio desse monte de retardados de pau entre as pernas, eu fico com o sexo, que é pra isso que servem esses esquerdóides tirados a algo que preste. Bem, passei por ele e resolvi voltar. Se ele vai pensar que eu sou comidinha fácil, que pense mesmo, assim é mais rápido levar ele pra casa e servir ao molho branco. E se depois ele contar pra todos... Bem isso eu acho que não vai fazer, esse é um de meus critérios, sigilo. Ele é capaz disso. Não confio com toda certeza, mas pelo que já falamos é o que parece. Ora, este é um risco aceitável.

Foi isso. Passei, voltei e convidei-o para fumar um baseado na varanda. Ele ficou sem graça, num riso bobo e nervoso. Olhei pra ele como uma mãe olha para um filho e disse “relaxe menino, a gente senta ali enrola um, fica de boa e vai pra aula... ta bom pra você?” Ele ficou ainda sem jeito mais topou. Eu por dentro nem acreditei. Primeiro no que eu tava fazendo: chamando um cara pra fumar, dando o primeiro passo numa relação, encarnando a fêmea emancipada e dona de si, segura de suas vontades... Eu tenho dezoito anos, apesar das maduras abstrações que guardo na cabeça. Quando pensei nisso, o nervosismo voltou. E diante daquele sorriso bobo eu me senti insegura: “primeiro eu vou aqui à cantina, você vai esperar aqui?” Ele concordou e eu sai em disparada.

Acredite, aquela mulher que há um minuto tinha dado o bote preciso era agora uma menina que não sabia o que fazer. Fiquei pensando comigo, será que isso, será que aquilo. Minha síndrome de dependência atacou e tive que procurar um amigo para aliviar meu estado de tensão. Disse que ele tinha de ir lá comigo, que eu não ia voltar lá sozinha, porque eu tinha receio de entrar em pânico e falar um monte de besteira, inclusive que ele era a pessoa mais linda da face da terra e que eu queria casar com ele. Nem precisa dizer que meu amigo se acabou de rir e disse que eu fosse sozinha.

Fomos os dois. Chegando lá a beldade estava com uma menina e nem veio fumar com a gente. Resumo da missa, eu me sabotei novamente. Não sei mais o que fazer comigo: quero sexo e quero amor, será que não entra na minha cabeça que não dá pra ter as duas coisas juntas nesse mundo fudido? Na ultima carta que você me mandou você dizia não querer mais saber de homens, que iria tentar com mulheres... Eu ainda não tentei, mas acho que não é pra mim. Ana, eu gosto é de pica, gosto de cavanhaque roçando nos meus seios, gosto de flores, gosto de ser passiva... Acontece que eu não suporto mais esse monte de idéias na minha cabeça, uma hora o go-go boy outra o príncipe encantado... E no fim não tenho nenhum nem outro na realidade.

Um beijo e a gente se fala mais depois, agora tenho que cuidar de algumas coisas da faculdade, afinal ainda sou uma estudante aplicada. Não esqueça de me escrever, estou ansiosa pra saber como foi a boite GLS?

Um beijo...

Clara



domingo, 12 de setembro de 2010

Tem coisa que a gente quer, mas como é que esquece?

---------- Mensagem encaminhada ----------
De: Hamilton Lima
Data: 12 de setembro de 2010 00:35
Assunto: Continue a nadar, Continue a nadar, Continue a nadar...
Para: Ítalo Mazoni


Não tenho Twitter mas quando entro em blogs de alguns amigos sempre dou uma olhado no Twitter deles... rsrs... foi desse jeito que cheguei no seu e li:
"Continue a nadar, Continue a nadar, Continue a nadar, Continue a nadar,Continue a nadar, Continue a nadar, Continue a nadar..." 28 minutes ago via web
  • Não pense, pense, não pense, pense, não pense, pense, não pense, pense... 'Continue a nadar, continue a nadar, continue a nadar
  • e me lembrei de um fragmento do Caio Fernando Abreu que me lembrou seu escrito:

    "Eu entro nesse barco, é só me pedir. Nem precisa de jeito certo, só dizer e eu vou (...). Eu abandono histórias, passado, cicatrizes. Mudo o visual, deixo o cabelo crescer, começo a comer direito, vou todo dia pra academia (...). Mas você tem que remar também. Eu desisto fácil, você sabe. E talvez essa viagem não dure mais do que alguns minutos, mas eu entro nesse barco, é só me pedir. Perco o medo de dirigir só pra atravessar o mundo pra te ver todo dia. Mas você tem que me prometer que vai remar junto comigo. Mesmo se esse barco estiver furado eu vou, basta me pedir. Mas a gente tem que afundar junto e descobrir que é possível nadar junto. Eu te ensino a nadar, juro! Mas você tem que me prometer que vai tentar, que vai se esforçar, que vai remar enquanto for preciso, enquanto tiver forças! Você tem que me prometer que essa viagem não vai ser a toa, que vale a pena. Que por você vale a pena. Que por nós vale a pena. Remar. Re-amar. Amar".

    Caio Fernando Abreu

    quinta-feira, 15 de julho de 2010

    Ensaio - Experiência, Linguagem e Informação


    Universidade Federal da Bahia

    instituto de psicologia

    Seminários Interdisciplinares II

    ítalo mazoni dos santos gonçalves


    Experiência, Linguagem e Informação

    Salvador

    Julho de 2010


    ítalo mazoni dos santos gonçalves

    Experiência, Linguagem e Informação

    Ensaio apresentado à disciplina XX, Instituto de Psicologia, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a conclusão da disciplina.

    Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Denise Coutinho

    Salvador

    Julho de 2010


    RESUMO

    Depois do banho com o sabonete Protex, escovo os dentes com o creme dental Sorriso. Na hora de me vestir calça Jeans e uma camiseta com a estampa “1954 College Team”. E tudo isso passou diante de meus olhos bem antes do cheiro encorpado de café que sempre vem da cozinha. Mas e daí, o que estou querendo aqui ao apresentar estes fatos? Bem, este é um ensaio que se propõe discutir as possíveis relações entre experiência e linguagem... e o que isso tem a ver com informação? É o que veremos...

    Palavras-chave: (Experiência, Linguagem e Informação)


    Experiência, Linguagem e Informação

    Vivemos a idade mídia onde quase tudo é um suporte veiculando oceanos de informações, que nos chegam sem parar e muitas vezes sem que tenhamos a oportunidade de escolher recebê-las, ou não. Em um dia comum o bombardeio começa cedo quando o celular começa a cantar a músiquinha da Nokia e, sem querer, acabo lembrando aquele comercial da Coca-cola que usou a mesma melodia para propagar sua marca. Sentado na cama, ainda sonolento calço minhas sandálias havaianas “as originais” e vou ao banheiro. Depois do banho com o sabonete Protex, escovo os dentes com o creme dental Sorriso. Na hora de me vestir calça Jeans e uma camiseta com a estampa “1954 College Team”. E tudo isso passou diante de meus olhos bem antes do cheiro encorpado de café que sempre vem da cozinha. Mas e daí, o que estou querendo aqui ao apresentar estes fatos? Bem, este é um ensaio que se propõe discutir as possíveis relações entre experiência e linguagem... e o que isso tem a ver com informação? É o que veremos... Mas antes vamos a algumas noções importantes.

    Linguagem

    Evidentemente não sou eu quem vai responder o que é linguagem, mas também não vou adotar uma aqui a definição particular de um determinado autor, deliberadamente adotarei uma definição coletiva do que vem a ser linguagem. Assim consta registrado coletivamente na internet que

    Linguagem é qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de idéias ou sentimentos através de signos convencionados, sonoros, gráficos, gestuais etc., (...) Os elementos constitutivos da linguagem são, pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar conceitos de comunicação, idéias, significados e pensamentos. Embora os animais também se comuniquem, a linguagem verbal pertence apenas ao Homem (Wikipédia, enciclopédia livre, acesso em 02 de Julho de 2010 disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Linguagem).


    Temos então a linguagem que é o nome genérico dado a todas as formas de comunicação estabelecidas. Temos a língua que é uma forma de linguagem verbal que em conjunto com o aparelho fonador veicula conceitos, e que é objeto de estudo específico da lingüística. E temos a semiótica que na definição de Umberto Eco (2002) é a ciência geral de todas as linguagens, pois pretende estudar todos os fenômenos culturais como sistemas de significação. E é neste ponto que eu vou me deter agora.

    Semiótica

    A semiótica enquanto ciência tem por pretensão estudar não somente a comunicação através da linguagem, mas principalmente o processo de significação decorrente da solicitação de uma resposta interpretativa do destinatário de uma mensagem. Traduzindo, a semiótica pretende compreender de que maneira uma mensagem veiculada por uma forma pré-estabelecida é interpretada pela pessoa que a recebe.

    Charles Sanders Pierce (1839-1914) foi um cientista que dentre tantas outras coisas, buscou observar os fenômenos perceptivos e, através da análise, postular as formas e propriedades universais desses fenômenos. Produzindo assim categorias universais a toda e qualquer experiência ou pensamento, ou seja, ele tentou estabelecer o que é comum a todo processo de interpretação de signos. Em seus trabalhos Pierce verificou que para conhecer e compreender qualquer coisa a consciência produz um signo, ou seja, um pensamento como mediação irrecusável entre nós e o fenômeno. Assim para ele perceber é interpor uma camada interpretativa entre consciência e objeto percebido. Assim o signo por um lado representa o que está fora dele, seu objeto, e por outro dirige-se para alguém em cuja mente se processará sua remessa para outro signo, onde seu sentido se traduz em outro signo, e assim ad infinitum (Santaella, 1987).

    Para seguirmos preciso falar ainda de mais uma coisa, o signo que é uma coisa que representa outra coisa: seu objeto. Segundo (Santaella, 2000) existem três tipos de signo:

    Ícone: Mantém uma relação de proximidade sensorial ou emotiva entre o signo, representação do objeto, e o objeto em si. Possui uma forma que de fato não representa uma imagem, no máximo sugere. Diante de um ícone dizemos “parece uma escada..., parece um avião...”

    Índice: Parte representada de um todo anteriormente adquirido pela experiência subjetiva ou pela herança cultural - exemplo: onde há fumaça, logo há fogo. Isso quer dizer que através de um indício (causa) tiramos conclusões.

    Símbolo: É um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de uma lei. Normalmente uma associação de idéias gerais que opera no sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele determinado objeto

    Seguindo, temos então que a linguagem abrange todas as formas de comunicação e que a semiótica pretende estudar de que maneira esta comunicação estabelece sentidos e significados em seus participantes. Mas e a informação? Bem sejamos objetivos quanto a ela.

    Informação é o resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe. (Wikipédia, enciclopédia livre, acesso em 02 de Julho de 2010 disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Informação).


    Precisa dizer mais? Acho que não. Vamos tocando para falarmos um pouco agora sobre a experiência. Um dia desses por uma coincidência feliz veio parar em minhas mãos um texto intitulado “Notas sobre a experiência e o saber da experiência” de um autor chamado Jorge Larrosa Bondía. O texto tempo por objetivo questionar algumas oposições existentes no campo da educação. Segundo ele a educação costuma ser pensada a partir de dois pontos de vista fundamentais: como relação entre ciência e técnica ou como relação entre teoria e prática. Depois de constatar isto o autor propõe pensar a educação a partir de outro ângulo, o da relação entre experiência e sentido. A partir daí ele desenvolve estes conceitos. É de nosso interesse aqui apenas o tratamento que ele dispensa ao conceito de experiência.

    Segundo Larrosa a experiência é aquilo que nos passa, que nos acontece e toca. O autor aponta concordando com as palavras de Beijamin (1991) que nos tempos atuais “é como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências”. Seriam motivos para isso primeiro o excesso de informação, que não deve ser confundido com experiência. Para Larrosa “uma sociedade constituída sob o signo da informação é uma sociedade na qual a experiência é impossível” (p. 22). Em segundo lugar a experiência é cada vez mais rara por um excesso de opinião a respeito das informações. Terceiro pela falta de tempo que substitui a experiência pelo estímulo instantâneo que imediatamente é substituído por um novo estímulo ou excitação igualmente efêmera. Indicando estas questões Larrosa nos diz que

    A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2002, p. 24)

    Acho que podemos agora ligar os pontos e retomar a proposta inicial: relacionar experiência, linguagem e informação. Ora, quando acordei naquela manhã tudo o que me chegou aos olhos foi informação. Símbolos que me remeteram a mais símbolos. Nada me modificou, nada me aconteceu. Mais tarde na faculdade ao assistir a uma aula, ler um livro tudo o que fiz foi me informar, criar uma opinião, ocupar o tempo que já não tenho com novas demandas. A questão é: em uma sociedade de tanta informação, onde os signos estão em todos os lugares, nos remetendo ad infinitum para a Coca-cola ou o novo hit do momento é possível viver experiências?

    Para respondermos vamos falar um pouco da linguagem cinematográfica, mais especificamente sobre o gênero documentário. Quantas vezes já ouvi pessoas dizendo “ai, assistir documentário não, que coisa chata”. Muitos reclamam do fato de muitos destes filmes não passarem de um enfadonho conjunto de informações capturas em imagens. Elas não estão equivocadas com isso, mas como já dissemos estar informado não é ter uma experiência, e muito menos uma experiência de ordem estética que é a que, pelo menos eu, espero ao apreciar um bom filme. Então como um documentário, que já tem esse nome burocrático, poderia ser uma experiência? Como a linguagem das câmeras e refletores poderia colaborar para que uma informação não fosse apenas uma bola de bilhar tecando outras bolas de informação em nossas cabeças? Segundo o documentarista João Moreira Salles (2008), em entrevista à TV Câmara, prezar pela “notícia” em um documentário é acabar com sua potencialidade já que as informações colocam o expectador fora da experiência estética e dento de um raciocínio cartesiano, que de alguma forma impede a imersão dos sentidos na experiência do filme.

    Outro exemplo que o diretor dá para exemplificar seu ponto de vista nos faz compreender melhor esta relação entre a maneira de utilizar a linguagem e a experiência advinda da informação veiculada por ela. Diz ele

    Eu não sei quando começa o outono, mas digamos que seja no dia 21 de março. ‘No dia 21 de março começou o outono’, essa é uma notícia. A outra coisa é você descrever a árvore que fica vermelha diante da sua janela, ai você não está dando uma notícia sobre o outono, mas de certa maneira transmitindo uma experiência sobre o outono. (Salles, 2008)

    Em seguida ele nos lembra do mesmo texto que Larrosa citou “O narrador” de Benjamin. Neste texto o autor problematiza o fim da narrativa devido à super valorização da informação. Para Benjamin o declínio da tradição oral equivale à morte do narrador, alguém que conduz a história através não só de sua experiência individual, mas também de um todo coletivo, onde a experiência é transmitida e não só informada.

    O homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado." Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa perfeita vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas. (Benjamin, 1994)

    Para fechar

    Chego ao fim deste ensaio com a nítida impressão de ter realizado exatamente o contrário do que defendi. Sinto que vendi a você, leitor, mais algumas informações. Pouco lhe dei de experiência, pouco contribui para que ao fim deste instante de leitura a passagem das letras sob suas retinas tenha modificado o que há por trás delas. Ora, o que fazer? Os limites impostos pela forma acabaram por deformar o conteúdo, no caso deste texto o moldar imposto pelas palavras foi a própria deformação da idéia. Sigamos em frente, o limite de uma linguagem é o da nossa capacidade de reinventá-la. Reinventemo-la... Eis minhas experiências para chegar e este texto... Divirta-se, ou melhor experimente...

    Segunda-feira 21 de junho de 2010

    Todos estes nomes estão bem: Internet, celular, televisão, revista, jornal, outdoors...

    Língua, linguagem, lingüística... Termos tantas vezes empregados despreocupadamente no desvairar dos discursos mas que guardam uma complexidade de sentidos e significados seculares. Assim, não podemos seguir sem...

    Terça-feira 22 de junho de 2010

    Meu nome é Ítalo Mazoni e tenho hoje 26 anos de vida. Sou do signo de Câncer. Gosto de literatura, música, psicologia, viagens, informática, pesquisa. Atualmente curso psicologia na Universidade Federal da Bahia. Sou um cara meu calado, gosto de

    Quarta-feira 23 de junho de 2010

    Há alguns anos quando eu ainda cursava a faculdade de administração, um professor de Introdução à filosofia disse em sala que alguns textos nos escolhem e não o contrário. Achei interessante sua fala, apesar de considerá-la apenas uma boa metáfora. Fato é que o tempo passou, eu larguei administração e passei a apreciar os bons livros.

    O texto de Benjamin é antigo. Ele não imaginava o que estava por vir na era da informação

    Blá, blá, blá x Ai, ui, humm: Psicólogo é quem saca da experiência alheia, ou seja, está apto a colaborar na transfiguração da informação em experiência. Será?

    Domingo 27 de junho de 2010

    Quando cheguei do espetáculo teatral que me consumiu uma noite quase intera, mas que me deu pano para umas tantas camisas, sentei-me diante do computador para tentar elaborar algumas linhas sobre uma idéia que venho trabalhando em vivência, ultimamente. Idéia séria e que tem destino certo: as páginas do trabalho final da disciplina seminários interdisciplinares em Psicologia II. Sim, ok, eu admito logo de cara, ainda não sou psicólogo, sei que ainda me falta o canudo para todo mundo acreditar. Contudo, enquanto o poder da república, investido naquele que dizem reger a ciência, não me outorga o título para fazer valer mais minhas palavras... Vou escrevendo meus argumentos. [Lembrar de fazer referência aqui ao Focault de a Ordem do Discurso]. Então... Cheguei com esse monte de viagem na cabeça, subi para o quarto, que já estava escuro e com os cinco leitos adormecidos com meus colegas residentes. Rapidamente: banho, arrumar a cama, derrubar alguma coisa, procurar algo que tiraram do lugar, encontrar, abrir a porta, bater com a cabeça na borda do beliche de cima, catar o PC, o mouse, a fonte de alimentação, um pacote de biscoitos de sal, e sair... Já na porta, antes de descer os três lances da escada lembrei-me deles. Voltei. Catei-os em meio aos papeis e cuecas entrincheiradas. Desci. As mesas vazias e a TV exorcizada em silencio me inspiraram mais ainda. Sentei e logo a eles retornei. “As formas do conteúdo” de Humberto Eco e “Fenomenologia e estruturalismo” de Andrea Bonomi. Os descrevi inicialmente do lugar de onde estavam... Mas logo os aproximei da posição por mim imaginada e colorida.

    * * *

    Tenho diante de mim um livro intitulado “As formas do Conteúdo”, trabalho de um autor que muito me agrada. Contudo, neste instante, o tomo iluminado sobre a mesa por luz focal é até mais que os mundos ainda não remoídos por mim ali dentro. Suas cores milimetricamente beijadas pelos feixes teatralmente marcados pelo azulado da fumaça do cigarro que morre sob o cinzeiro, ostenta um porta estandarte retilíneo. Três cores em complemento, três formas geométricas em equilíbrio. O branco que prevalece como fundo, aparente até mais da metade vertical do volume, recebe dois retângulos: um em filtro âmbar pintando uma estrela com tentáculos de polvo, sendo que pende em sua na base interna, em tipo a palavra “Estética”; a outra equivalente forma, diretamente oposta, tingida em negro ostenta em negativo a forma tipográfica que contém a centelha que me aproxima de um humano, outrem como eu, “Humberto Eco”.


    Domingo 28 de junho de 2010

    Informação racionalmente processada

    O presente trabalho, inicialmente, teve por objetivo investigar a linguagem. Contudo, e evidentemente, a Linguagem enquanto construto configura-se excessivamente abrangente para o tratamento stricto senso. Assim, optamos por um recorte metodológico advindo do próprio contato com o fenômeno estudado, o que se justifica na media em que a linguagem é conforme Eco (??) toda forma de social de comunicação (ver definição de linguagem e colocar aqui). Trataremos então de um aspecto da linguagem

    REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CITADAS OU CONSULTADAS

    BENJAMIN, Walter. O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221.

    ECO, Umberto. Tratado geral de semioticaa. 4. ed.. Sao Paulo: Perspectiva, 2002. 282 p. (Estudos73) ISBN 8527301202 (broch.)

    GUINSBURG, Jacó; COELHO NETTO, J. Teixeira; CARDOSO, Reni Chaves. Semiologia do teatro. 2. ed. rev. e aum. São Paulo, SP: Perspectiva, 1988. 380 p.

    GREINER, Christine; BIÃO, Armindo Jorge; KANAU, Abel. Etnocenologia: textos selecionados. São Paulo: Annablume, 1998. 193 p. ISBN 8574190543 (broch.)

    LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, jan/fev/mar/abr, n.19, 2002b.

    SANTAELLA, Lúcia. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. São Paulo, SP: Pioneira, 2000. 153 p. ISBN 8522102244 (broch.)

    SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. 114 p.

    SALLES, João Moreira. Informação x Experiencia. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=J6cjVR_tTxc. Acesso em: 04 de junho de 2010.

    quarta-feira, 30 de junho de 2010

    Ensaio Frustrado...

    Quando cheguei do espetáculo teatral que me consumiu uma noite quase intera, mas que me deu pano para umas tantas camisas, sentei-me diante do computador para tentar elaborar algumas linhas sobre uma idéia que venho trabalhando em vivência, ultimamente. Idéia séria e que tem destino certo: as páginas do trabalho final da disciplina seminários interdisciplinares em Psicologia II. Sim, ok, eu admito logo de cara, ainda não sou psicólogo, sei que ainda me falta o canudo para todo mundo acreditar. Contudo, enquanto o poder da república, investido naquele que dizem reger a ciência, não me outorga o título para fazer valer mais minhas palavras... Vou escrevendo meus argumentos. [Lembrar de fazer referência aqui ao Focault de a Ordem do Discurso]. Então... cheguei, com esse monte de viagem na cabeça, subi para o quarto, que já estava escuro e com os cinco leitos adormecidos com meus colegas residentes. Rapidamente: banho, arrumar a cama, derrubar alguma coisa, procurar algo que tiraram do lugar, encontrar, abrir a porta, bater com a cabeça na borda do beliche de cima, catar o PC, o mouse, a fonte de alimentação, um pacote de biscoitos de sal, e sair... Já na porta, antes de descer os três lances da escada lembrei-me deles. Voltei. Catei-os em meio aos papeis e cuecas entrincheiradas. Desci. As mesas vazias e a TV exorcizada em silencio me inspiraram mais ainda. Sentei e logo a eles retornei. “As formas do conteúdo” de Humberto Eco e “Fenomenologia e estruturalismo” de Andrea Bonomi. Os descrevi inicialmente do lugar de onde estavam... mas logo aproximei-os da posição por mim imaginada e colorida.

    * * *

    Tenho diante de mim um livro intitulado “As formas do Conteúdo”, trabalho de um autor que muito me agrada. E neste caso, neste instante o tomo iluminado diretamente por luz focal é até mais que os mundos ainda não remoídos por mim ali dentro. Suas cores milimetricamente beijadas pelos feixes teatralmente marcados pelo azulado da fumaça do cigarro que morre sob o cinzeiro, ostenta um porta estandarte retilíneo. Três cores em complemento, três formas geométricas em equilíbrio. O branco que prevalece como fundo, aparente até mais da metade vertical do volume, recebe dois retângulos: um em filtro âmbar pintando uma estrela com tentáculos de polvo, sendo que pende em sua na base interna, em tipo a palavra “Estética”; a outra equivalente forma, diretamente oposta, tingida em negro ostenta em negativo a forma tipográfica que contém a centelha que me aproxima de um humano, outrem como eu, “Humberto Eco”.

    terça-feira, 8 de junho de 2010

    O que significa isso?

    O que significa isso?

    Nossa Senhora Virgem Maria
    Nada Mais, Nem Você

    Meu Saber Não Viverá
    Minha Vontade Não é Secreta


    Sentir, Negacear, Mudar e Viver
    Seu Mundo Viverá, Neguinha

    Você Nunca se Sentiu Melhor
    Vesti Meu Segredo, Ma cherrie



    domingo, 4 de abril de 2010

    Pós-moderno Eu



















    Pós-moderno Eu (Ítalo Mazoni / Cristiano Balla)


    Am9 Am9/G# Am9/G Dm
    Vem sem dó o desejo, a palavra e o medo

    G7 C7M/9 (Bm7/5- G#°)
    Não há segredos no espelho.

    Am9 Am9/G# Am9/G Dm
    Pós-moderno horizonte fluido, um lugar intangível,

    G7 C7M/9 Bm7/5-
    Pro meu ser impossível.

    Bb7M B°
    Entre ter e ser

    Am7 Dm
    Não tenho nem sou,

    E7/9- E7
    Não fico nem vou.

    Am A7
    Sou quem?

    F7M/13- E Am G
    Um lugar qualquer, sim ou não.

    F7M/13- E Am G
    Adeus sem chegada, travessia...

    C
    Onde vou não dá pra ver.

    Bb9 Am
    Sigo só, cadê você?

    G# G
    Sensação tão finita.

    O desejo, a palavra, meu cansaço...

    É o que sou.

    domingo, 21 de março de 2010

    Coisas de 2005

    Um amigo que é compositor me pediu encarecidamente uma letra para musicar... disse-lhe que infelizmente não a minha produção poética nos últimos tempos não vai nada bem... Ai ele disse "vc tem que ter um arquivo morto por ai". E não é que coisas boas encontrei... Descobri que o ano de 2005 foi muito, muito produtivo em poemas e versos... Então agora vou postar uma série de poemas dessa época... É isso...

    Belos versos

    Se na algibeira trago versos... Do estômago gritam ecos.

    Fossem os meus desbotados como os que – de boca em boca – por aí pulam,

    Seria o rei quem traria na barriga; na cabeça idéias desvarridas

    E nos outros um alvo em minha mira.

    Prefiro verbos brancos em meu bolso.

    Se à boca não me trazem bons gostos

    A minh’alma não dão desgosto.

    Que fiquem eles com as calças abarrotadas de prata,

    Não quero ter com Deus à sombra da desgraça.

    Logo eu que pintei o universo com canções de ninar!

    Não, não farei da letra lama para o puro deturpar.

    Dos poucos a renegar a taça farta do “medíocre-popular”

    Restam alguns como eu, cheios de ecos e bons versos para dar.

    Ítalo Mazoni

    10/07/2005



    Meu Yin quer seu Yang (e vice-versa)

    Já não movo montanhas com tanta força

    As pedras machucam e nunca acabam

    Hoje me restam paciência e tom de moça

    Delicadeza sutil própria dos que amam


    Que dirão os rudes de minha leveza?

    Não sabem eles que é mulher a natureza!

    Onde andam os homens desse mundo?

    Tragam já aos céus o feminino oculto.


    Mas calma senhora, não é toda sua a noite.

    Se diante de ti vêm abaixo montanhas,

    Às damas que não encanta atiça o acoite.

    Se no jardim há tantas rosas ciumentas

    Que dirão as belas de minha camaradagem?

    Não são irmãs: amásias, esposas e donzelas?

    Porque decapitar reis e morrer por fúteis mazelas

    Ora, sejam espertas, bebam deles a irmandade.


    Ítalo Mazoni

    20/06/05



    E uma down pra terminar por hj...


    O medo que tem a imagem no espelho


    Vai infeliz, mente outra vez para o espelho!

    Quem és tu se não a mesma alma sobre uma armadura (ou trapo) diferente?

    Já não suporto mais este teu choro contido

    Se for pra chorar, que chore até a última gota de sangue de uma vez!

    Não vê que está comendo tempero como comida

    Finge dia e noite que o sal não lhe faz mal...

    Acredite, o que dá gosto a vida não pode ser prato principal

    Esse néctar é complemento, é a pimenta...

    Mas continue assim, vai, continue...

    E em breve apanharei seu corpo sem alma

    Torto, como garrafa sem ar ou conteúdo que lhe dê forma

    Olho para você todos os dias e não vejo reação

    Seus queridos estão partindo...

    Onde estão seus amigos, deles você só tem a saudade

    E quem tem isso é você, terão eles ao menos isso por ti?

    Tudo bem... Não queres nada com o a Terra? Vai para o inferno então

    E vá logo, usa esta faca podre de cozinha para terminar com isso!

    É o que você merece por esquecer quem você é

    Eu sou sua imagem no espelho, não posso viver por ti

    Quando encontrar o diabo manda lembranças minhas a ele

    Para mim não faz diferença, não tenho alma, não queimo no inferno ou gozo do céu

    Sou tua imagem, apenas envelheço com você, se assim for, e deixo de existir

    Mas a alma, meu caro, essa é sua... Quem sabe é você...

    Não quer acordar então afogue-se em seu cuspe de nojo

    Continue por este caminho e terá o que desejas agora

    Um fim em si mesmo!

    Ítalo Mazoni

    03/06/2005



    sexta-feira, 19 de março de 2010

    Cotidiano...

    Não tenho espaço para mim. Estou afogado de tarefas e atividades. É um problema ter todos os documentos, apostilas e papeis utilizados durante a semana espalhados no chão em frente ao meu armário. Hoje é sexta-feira e não fui para aula. Como uma amiga minha costuma fazer fiquei na cama tentando me esconder do mundo. Pena que no meu caso uma grande parte do mundo já mora no meu quarto. Ontem entrei mais uma vez no modo "eu sou otário" e literalmente me deixei ser enganado. "5060?" "Não, 5090" e eu paguei. Depois para compensar a perda sai gastando mais ainda apenas para preencher o vazio... Realmente não foi um bom dia. Tem tanta coisa para eu fazer que eu não estou mais nem com vontade de começar... E cada vez que abro o e-mail tem uma nova tarefa... Minha meta este semestre era reduzir a quantidade de atividades para poder me dedicar à escrita do artigo final referente há quase dois anos de pesquisa... Quem disse! Estamos na terceira semana de aulas e das disciplinas eu só sei os dias, nada mais. Apenas trabalho, trabalho e mais trabalho. De fato isso não pode continuar assim. Ter um pouco mais de grana está me saindo muito caro. A relação preço e valor de uso começa a se inverte. O telefone toca "Ítalo e ai, você quer continuar no semestre que vem?". Eu gaguejo e digo que sim. Mais trabalho, mais tarefas, mais obrigações... Já está mesmo saindo mais caro do que eu imaginei... Ontem tive uma boa notícia. Saiu a lista de projetos habilitados para avaliação no edital de criação literária do Fundo de Cultura da Bahia. O meu foi habilitado e agora será avaliado junto com mais 12 propostas. Foram 18 inscritos. 6 rodaram e 12 concorrem à 8 "bolsas" para criar um livro. Ou seja, tenho mais chance do que eu imaginava. Agora é só esperar o dia 1º de maio quando o resultado final sai. Ai eu me pergunto "como vai ser pra escrever este livro quando eu ganhar o recurso?". Bem, meu blog é público e infelizmente este assunto se encerra aqui... (eu já andei olhando a vida dos outros concorrentes na net, certamente farão o mesmo, então é melhor não deixar fiapos que possam influenciar em qualquer decisão dos julgadores... Mas voltando à vida... realmente não estou bem por hoje, já são 4 anos... cansei!

    domingo, 21 de fevereiro de 2010

    Coisas de tempos idos - Desabafo de um Vestibulando



    Desabafo de um Vestibulando

    Um vestibulando é o que eu estou. Acordo todos os dias pensando nesse tal vestibular. Será que eu vou passar? A pressão é incrível: do pai, da mãe, do vizinho, da concorrência... às vezes até meu cachorro vem perguntar como vão meus estudos. Os cumprimentos que normalmente eram “E aí rapaz, tem feito o quê?”, agora são “E aí, estudando muito? O vestibular vem aí, vai passar mesmo? Quero só ver!”, isto é horrível!

    O Dr. Vestibular, a cada dia que passa, aparece mais cedo na vida dos jovens brasileiros – isso inclui a mim. Lá pela sétima série a professora já comentava “Gente, vamos estudar, o vestibular está aí. Vocês já sabem o que vão ser quando crescerem?”. É lógico que eu, do alto dos meus 13 anos, achava que iria ser médico – a mamãe disse que isso era legal – e que era só fazer a lição de casa de vez em quando e tudo seria fácil – doce ilusão. Acho que se eu fizer uma sessão hipnose regressiva vou lembrar de meu pai dizendo “Olha a carinha de inteligente dele, vai ser doutor, vai passar no vestibular na primeira vez que prestar o exame”. O que tem de errado em ser lixeiro ou pescador? Por que a sociedade brasileira é tão imediatista? Se você aos 27 anos ainda não está fazendo mestrado e ainda não tem uma noiva – ou noivo se você preferir – começa a pensar que está muito tarde, que já está velho. Gente, isso não é verdade! Hoje a expectativa média de vida – para pessoas de classe média – está em quase 80 anos, e com qualidade, não num asilo. Ainda por cima a dona Sociedade exige “você tem de ser produtivo, se você não for útil a mim – ‘a sociedade’ – não serve para nada”. Eu penso que as coisas não são bem assim, se você, para ser feliz, deseja criar galinhas e plantar maconha para “viajar” com seu amor num sítio interiorano, ninguém tem nada a ver com isso. Mas juntam-se sua mãe e o mundo para te convencer que para ser alguém é preciso cursar uma faculdade. Isso é o cúmulo!

    Fato é que eu estou aqui, preparando-me para o meu segundo exame. Não existem mais quimeras, apenas aulas e mais aulas, de domingo a domingo. Durante a aula de física eu – que agora resolvi estudar psicologia – não consigo evitar indagações como: meu Deus, eu vou estudar o comportamento humano, porque me obrigam a saber a “aplicação da Lei de Ohm em circuitos simples constituídos por geradores, receptores e resistores”, porque insistem em me convencer que “à unidade de energia recebida por unidade de carga dá-se o nome de força eletromotriz do gerador”, para que isso vai servir na profissão que eu resolvi exercer?

    Mas tudo bem, eu até aceito que haja uma seleção no processo de admissão à faculdade, afinal, se você escolheu esse caminho não vai querer que no meio da sua estrada – ou da sua sala de aula – existam pessoas que atrapalhem o progresso do seu processo de aprendizagem. Trocando em miúdos, é preciso manter um nível intelectual nos centros acadêmicos para que estes possam produzir melhor. Só que o vestibular não está servindo para isso no contexto atual do sistema educacional brasileiro. Nas faculdades públicas estaduais ou federais – tomando-as como referência já que são as mais concorridas – o conhecimento exigido do aluno sobre matérias curriculares do Nível Médio é quase absurdo, do meu ponto de vista. É exigido do candidato um conhecimento ultra-específico e profundo de assuntos que – guardando as devidas proporções – de nada servirão depois da aprovação. Entenda, durante seus gloriosos anos escolares o aluno é instruído com objetivo de tornar-se um ser consciente do mundo à sua volta, um cidadão capaz de refletir, de opinar, de conviver em sociedade e enfrentar os desafios do cotidiano, estes objetivos enobrecem a educação. Infelizmente, com o vestibular, estes propósitos estão sendo abandonados a partir da 5ª série do Ensino Fundamental. Como a maioria dos exames de admissão às escolas superiores, possuem critérios seletivos que valorizam o conhecimento específico de ciências naturais, humanas e vernáculas, as escolas não mais estão preocupadas em ensinar o específico de maneira a formar um ser humano com conhecimentos abrangentes e úteis. Pelo contrário, cada professor busca aprofundar-se em sua matéria como se fosse formar um especialista. Na minha opinião, os critérios de seleção deveriam passar por avaliações do perfil do candidato como ser social, deveriam considerar a afinidade do candidato com o curso pretendido e sua capacidade de utilizar o conhecimento específico, adquirido durante sua formação escolar, na resolução de problemas reais, e não de situações impossíveis, como as que encontramos nas questões de ciências naturais no vestibular. Sei que isso está parecendo irreal, já que os novos parâmetros curriculares do Ensino Médio, instituídos a menos de cinco anos, rezam justamente isso. Mas não é o está impresso nas provas que eu ando estudando, para ver meu nome na lista de aprovados.

    A realidade é simples, com a crescente concorrência no mercado de trabalho contemporâneo, a exigência de profissionais mais qualificados é cada vez maior, conseqüentemente, a procura pelo 3ª grau aumentou de forma considerável. Está aí o que olhos desatentos, formados por uma escola orientada pelo deus Vestibular, não vêem. O número de vagas oferecidas pela estrutura do Ensino Superior publico – relembrando que ele é o mais cogitado – é incompatível com a demanda que o procura, ou seja, não cresceu na mesma proporção que as necessidades exigem. E como você acha que nossas “instituições democráticas” fazem para administrar este déficit, sem ficar mal perante a opinião pública? Aumentam o nível de dificuldade dos vestibulares para que o acesso seja controlado, sem que fique na cara o verdadeiro motivo, afinal, se você não passou na prova a culpa é sua, não é?

    Voltemos à minha vida aqui fora. Ainda estou na sala de aula e dessa vez quem discorre na sala do cursinho é o mestre em línguas estrangeiras. Minha mente não consegue deixar de dar sarcásticas risadas ao lembrar dos três anos do Nível Médio que cursei na rede publica de ensino. Eu avalio o quanto quem concluiu esta parte dos estudos em escolas publicas está longe do conhecimento mínimo exigido para se entrar na universidade. O vestibular além de servir de instrumento governamental, acaba servindo de vitrine das disparidades sociais de nosso país. Tudo bem, os níveis de evasão escolar caíram notavelmente, isso é bom, mas e a qualidade, onde fica? O ensino secundarista público não prepara ninguém para enfrentar o mecanismo de seleção imposto pelo governo. Ou seja, favorece as elites ricas e dominantes.

    Estes são os fatos e o professor continua a falar. Agora eu começo a pensar no que vou fazer para pagar mensalidade do cursinho – que é cara para um simples jovem assalariado correndo atrás do seu sonho. Pensando nisso, ocorre-me de imediato mais uma das faces ocultas do vestibular. Por que acabar com ele se ele está gerando milhões para industria dos cursinhos pré-vestibulares?

    É meu colega, se você está na condição vestibulando pense nisso tudo. Lembre-se que estamos, momentaneamente, concorrentes e, por falar nisso, acho melhor eu voltar à aula, mesmo que eu esqueça muito de tudo o que decorei, depois de ver meu nome no jornal. Apesar de tudo, não posso deixar de chamá-lo à luta. Talvez você seja um membro da elite econômica do país e tenha tido muitas oportunidades, suas possibilidades de passar no vestibular são grandes, talvez você nunca tenha pensado sobre tudo o que eu disse aqui, mas agora pense. Pense que ali fora existem milhares de jovens com o sonho de ser médico, mas que muitos não terão nem oportunidade de aprender a escrever esta palavra direito.Talvez um deles até lhe assalte depois que você amassar este texto. Nós que temos em nossas mãos a oportunidade de ao menos tentar, não podemos deixar de lutar por um país mais justo, onde pelo menos seja possível competir de igual para igual. Boa Sorte!

    Ítalo Mazoni dos Santos Gonçalves

    Em: 25 de Novembro de 2002