quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ensaio - Experiência, Linguagem e Informação


Universidade Federal da Bahia

instituto de psicologia

Seminários Interdisciplinares II

ítalo mazoni dos santos gonçalves


Experiência, Linguagem e Informação

Salvador

Julho de 2010


ítalo mazoni dos santos gonçalves

Experiência, Linguagem e Informação

Ensaio apresentado à disciplina XX, Instituto de Psicologia, Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a conclusão da disciplina.

Orientador(a): Prof(a). Dr(a). Denise Coutinho

Salvador

Julho de 2010


RESUMO

Depois do banho com o sabonete Protex, escovo os dentes com o creme dental Sorriso. Na hora de me vestir calça Jeans e uma camiseta com a estampa “1954 College Team”. E tudo isso passou diante de meus olhos bem antes do cheiro encorpado de café que sempre vem da cozinha. Mas e daí, o que estou querendo aqui ao apresentar estes fatos? Bem, este é um ensaio que se propõe discutir as possíveis relações entre experiência e linguagem... e o que isso tem a ver com informação? É o que veremos...

Palavras-chave: (Experiência, Linguagem e Informação)


Experiência, Linguagem e Informação

Vivemos a idade mídia onde quase tudo é um suporte veiculando oceanos de informações, que nos chegam sem parar e muitas vezes sem que tenhamos a oportunidade de escolher recebê-las, ou não. Em um dia comum o bombardeio começa cedo quando o celular começa a cantar a músiquinha da Nokia e, sem querer, acabo lembrando aquele comercial da Coca-cola que usou a mesma melodia para propagar sua marca. Sentado na cama, ainda sonolento calço minhas sandálias havaianas “as originais” e vou ao banheiro. Depois do banho com o sabonete Protex, escovo os dentes com o creme dental Sorriso. Na hora de me vestir calça Jeans e uma camiseta com a estampa “1954 College Team”. E tudo isso passou diante de meus olhos bem antes do cheiro encorpado de café que sempre vem da cozinha. Mas e daí, o que estou querendo aqui ao apresentar estes fatos? Bem, este é um ensaio que se propõe discutir as possíveis relações entre experiência e linguagem... e o que isso tem a ver com informação? É o que veremos... Mas antes vamos a algumas noções importantes.

Linguagem

Evidentemente não sou eu quem vai responder o que é linguagem, mas também não vou adotar uma aqui a definição particular de um determinado autor, deliberadamente adotarei uma definição coletiva do que vem a ser linguagem. Assim consta registrado coletivamente na internet que

Linguagem é qualquer e todo sistema de signos que serve de meio de comunicação de idéias ou sentimentos através de signos convencionados, sonoros, gráficos, gestuais etc., (...) Os elementos constitutivos da linguagem são, pois, gestos, sinais, sons, símbolos ou palavras, usados para representar conceitos de comunicação, idéias, significados e pensamentos. Embora os animais também se comuniquem, a linguagem verbal pertence apenas ao Homem (Wikipédia, enciclopédia livre, acesso em 02 de Julho de 2010 disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Linguagem).


Temos então a linguagem que é o nome genérico dado a todas as formas de comunicação estabelecidas. Temos a língua que é uma forma de linguagem verbal que em conjunto com o aparelho fonador veicula conceitos, e que é objeto de estudo específico da lingüística. E temos a semiótica que na definição de Umberto Eco (2002) é a ciência geral de todas as linguagens, pois pretende estudar todos os fenômenos culturais como sistemas de significação. E é neste ponto que eu vou me deter agora.

Semiótica

A semiótica enquanto ciência tem por pretensão estudar não somente a comunicação através da linguagem, mas principalmente o processo de significação decorrente da solicitação de uma resposta interpretativa do destinatário de uma mensagem. Traduzindo, a semiótica pretende compreender de que maneira uma mensagem veiculada por uma forma pré-estabelecida é interpretada pela pessoa que a recebe.

Charles Sanders Pierce (1839-1914) foi um cientista que dentre tantas outras coisas, buscou observar os fenômenos perceptivos e, através da análise, postular as formas e propriedades universais desses fenômenos. Produzindo assim categorias universais a toda e qualquer experiência ou pensamento, ou seja, ele tentou estabelecer o que é comum a todo processo de interpretação de signos. Em seus trabalhos Pierce verificou que para conhecer e compreender qualquer coisa a consciência produz um signo, ou seja, um pensamento como mediação irrecusável entre nós e o fenômeno. Assim para ele perceber é interpor uma camada interpretativa entre consciência e objeto percebido. Assim o signo por um lado representa o que está fora dele, seu objeto, e por outro dirige-se para alguém em cuja mente se processará sua remessa para outro signo, onde seu sentido se traduz em outro signo, e assim ad infinitum (Santaella, 1987).

Para seguirmos preciso falar ainda de mais uma coisa, o signo que é uma coisa que representa outra coisa: seu objeto. Segundo (Santaella, 2000) existem três tipos de signo:

Ícone: Mantém uma relação de proximidade sensorial ou emotiva entre o signo, representação do objeto, e o objeto em si. Possui uma forma que de fato não representa uma imagem, no máximo sugere. Diante de um ícone dizemos “parece uma escada..., parece um avião...”

Índice: Parte representada de um todo anteriormente adquirido pela experiência subjetiva ou pela herança cultural - exemplo: onde há fumaça, logo há fogo. Isso quer dizer que através de um indício (causa) tiramos conclusões.

Símbolo: É um signo que se refere ao objeto que denota em virtude de uma lei. Normalmente uma associação de idéias gerais que opera no sentido de fazer com que o símbolo seja interpretado como se referindo àquele determinado objeto

Seguindo, temos então que a linguagem abrange todas as formas de comunicação e que a semiótica pretende estudar de que maneira esta comunicação estabelece sentidos e significados em seus participantes. Mas e a informação? Bem sejamos objetivos quanto a ela.

Informação é o resultado do processamento, manipulação e organização de dados, de tal forma que represente uma modificação (quantitativa ou qualitativa) no conhecimento do sistema (pessoa, animal ou máquina) que a recebe. (Wikipédia, enciclopédia livre, acesso em 02 de Julho de 2010 disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Informação).


Precisa dizer mais? Acho que não. Vamos tocando para falarmos um pouco agora sobre a experiência. Um dia desses por uma coincidência feliz veio parar em minhas mãos um texto intitulado “Notas sobre a experiência e o saber da experiência” de um autor chamado Jorge Larrosa Bondía. O texto tempo por objetivo questionar algumas oposições existentes no campo da educação. Segundo ele a educação costuma ser pensada a partir de dois pontos de vista fundamentais: como relação entre ciência e técnica ou como relação entre teoria e prática. Depois de constatar isto o autor propõe pensar a educação a partir de outro ângulo, o da relação entre experiência e sentido. A partir daí ele desenvolve estes conceitos. É de nosso interesse aqui apenas o tratamento que ele dispensa ao conceito de experiência.

Segundo Larrosa a experiência é aquilo que nos passa, que nos acontece e toca. O autor aponta concordando com as palavras de Beijamin (1991) que nos tempos atuais “é como se estivéssemos privados de uma faculdade que nos parecia segura e inalienável: a faculdade de intercambiar experiências”. Seriam motivos para isso primeiro o excesso de informação, que não deve ser confundido com experiência. Para Larrosa “uma sociedade constituída sob o signo da informação é uma sociedade na qual a experiência é impossível” (p. 22). Em segundo lugar a experiência é cada vez mais rara por um excesso de opinião a respeito das informações. Terceiro pela falta de tempo que substitui a experiência pelo estímulo instantâneo que imediatamente é substituído por um novo estímulo ou excitação igualmente efêmera. Indicando estas questões Larrosa nos diz que

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (LARROSA, 2002, p. 24)

Acho que podemos agora ligar os pontos e retomar a proposta inicial: relacionar experiência, linguagem e informação. Ora, quando acordei naquela manhã tudo o que me chegou aos olhos foi informação. Símbolos que me remeteram a mais símbolos. Nada me modificou, nada me aconteceu. Mais tarde na faculdade ao assistir a uma aula, ler um livro tudo o que fiz foi me informar, criar uma opinião, ocupar o tempo que já não tenho com novas demandas. A questão é: em uma sociedade de tanta informação, onde os signos estão em todos os lugares, nos remetendo ad infinitum para a Coca-cola ou o novo hit do momento é possível viver experiências?

Para respondermos vamos falar um pouco da linguagem cinematográfica, mais especificamente sobre o gênero documentário. Quantas vezes já ouvi pessoas dizendo “ai, assistir documentário não, que coisa chata”. Muitos reclamam do fato de muitos destes filmes não passarem de um enfadonho conjunto de informações capturas em imagens. Elas não estão equivocadas com isso, mas como já dissemos estar informado não é ter uma experiência, e muito menos uma experiência de ordem estética que é a que, pelo menos eu, espero ao apreciar um bom filme. Então como um documentário, que já tem esse nome burocrático, poderia ser uma experiência? Como a linguagem das câmeras e refletores poderia colaborar para que uma informação não fosse apenas uma bola de bilhar tecando outras bolas de informação em nossas cabeças? Segundo o documentarista João Moreira Salles (2008), em entrevista à TV Câmara, prezar pela “notícia” em um documentário é acabar com sua potencialidade já que as informações colocam o expectador fora da experiência estética e dento de um raciocínio cartesiano, que de alguma forma impede a imersão dos sentidos na experiência do filme.

Outro exemplo que o diretor dá para exemplificar seu ponto de vista nos faz compreender melhor esta relação entre a maneira de utilizar a linguagem e a experiência advinda da informação veiculada por ela. Diz ele

Eu não sei quando começa o outono, mas digamos que seja no dia 21 de março. ‘No dia 21 de março começou o outono’, essa é uma notícia. A outra coisa é você descrever a árvore que fica vermelha diante da sua janela, ai você não está dando uma notícia sobre o outono, mas de certa maneira transmitindo uma experiência sobre o outono. (Salles, 2008)

Em seguida ele nos lembra do mesmo texto que Larrosa citou “O narrador” de Benjamin. Neste texto o autor problematiza o fim da narrativa devido à super valorização da informação. Para Benjamin o declínio da tradição oral equivale à morte do narrador, alguém que conduz a história através não só de sua experiência individual, mas também de um todo coletivo, onde a experiência é transmitida e não só informada.

O homem de hoje não cultiva o que não pode ser abreviado." Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa. Assistimos em nossos dias ao nascimento da short story, que se emancipou da tradição oral e não mais permite essa lenta superposição de camadas finas e translúcidas, que representa a melhor imagem do processo pelo qual a narrativa perfeita vem à luz do dia, como coroamento das várias camadas constituídas pelas narrações sucessivas. (Benjamin, 1994)

Para fechar

Chego ao fim deste ensaio com a nítida impressão de ter realizado exatamente o contrário do que defendi. Sinto que vendi a você, leitor, mais algumas informações. Pouco lhe dei de experiência, pouco contribui para que ao fim deste instante de leitura a passagem das letras sob suas retinas tenha modificado o que há por trás delas. Ora, o que fazer? Os limites impostos pela forma acabaram por deformar o conteúdo, no caso deste texto o moldar imposto pelas palavras foi a própria deformação da idéia. Sigamos em frente, o limite de uma linguagem é o da nossa capacidade de reinventá-la. Reinventemo-la... Eis minhas experiências para chegar e este texto... Divirta-se, ou melhor experimente...

Segunda-feira 21 de junho de 2010

Todos estes nomes estão bem: Internet, celular, televisão, revista, jornal, outdoors...

Língua, linguagem, lingüística... Termos tantas vezes empregados despreocupadamente no desvairar dos discursos mas que guardam uma complexidade de sentidos e significados seculares. Assim, não podemos seguir sem...

Terça-feira 22 de junho de 2010

Meu nome é Ítalo Mazoni e tenho hoje 26 anos de vida. Sou do signo de Câncer. Gosto de literatura, música, psicologia, viagens, informática, pesquisa. Atualmente curso psicologia na Universidade Federal da Bahia. Sou um cara meu calado, gosto de

Quarta-feira 23 de junho de 2010

Há alguns anos quando eu ainda cursava a faculdade de administração, um professor de Introdução à filosofia disse em sala que alguns textos nos escolhem e não o contrário. Achei interessante sua fala, apesar de considerá-la apenas uma boa metáfora. Fato é que o tempo passou, eu larguei administração e passei a apreciar os bons livros.

O texto de Benjamin é antigo. Ele não imaginava o que estava por vir na era da informação

Blá, blá, blá x Ai, ui, humm: Psicólogo é quem saca da experiência alheia, ou seja, está apto a colaborar na transfiguração da informação em experiência. Será?

Domingo 27 de junho de 2010

Quando cheguei do espetáculo teatral que me consumiu uma noite quase intera, mas que me deu pano para umas tantas camisas, sentei-me diante do computador para tentar elaborar algumas linhas sobre uma idéia que venho trabalhando em vivência, ultimamente. Idéia séria e que tem destino certo: as páginas do trabalho final da disciplina seminários interdisciplinares em Psicologia II. Sim, ok, eu admito logo de cara, ainda não sou psicólogo, sei que ainda me falta o canudo para todo mundo acreditar. Contudo, enquanto o poder da república, investido naquele que dizem reger a ciência, não me outorga o título para fazer valer mais minhas palavras... Vou escrevendo meus argumentos. [Lembrar de fazer referência aqui ao Focault de a Ordem do Discurso]. Então... Cheguei com esse monte de viagem na cabeça, subi para o quarto, que já estava escuro e com os cinco leitos adormecidos com meus colegas residentes. Rapidamente: banho, arrumar a cama, derrubar alguma coisa, procurar algo que tiraram do lugar, encontrar, abrir a porta, bater com a cabeça na borda do beliche de cima, catar o PC, o mouse, a fonte de alimentação, um pacote de biscoitos de sal, e sair... Já na porta, antes de descer os três lances da escada lembrei-me deles. Voltei. Catei-os em meio aos papeis e cuecas entrincheiradas. Desci. As mesas vazias e a TV exorcizada em silencio me inspiraram mais ainda. Sentei e logo a eles retornei. “As formas do conteúdo” de Humberto Eco e “Fenomenologia e estruturalismo” de Andrea Bonomi. Os descrevi inicialmente do lugar de onde estavam... Mas logo os aproximei da posição por mim imaginada e colorida.

* * *

Tenho diante de mim um livro intitulado “As formas do Conteúdo”, trabalho de um autor que muito me agrada. Contudo, neste instante, o tomo iluminado sobre a mesa por luz focal é até mais que os mundos ainda não remoídos por mim ali dentro. Suas cores milimetricamente beijadas pelos feixes teatralmente marcados pelo azulado da fumaça do cigarro que morre sob o cinzeiro, ostenta um porta estandarte retilíneo. Três cores em complemento, três formas geométricas em equilíbrio. O branco que prevalece como fundo, aparente até mais da metade vertical do volume, recebe dois retângulos: um em filtro âmbar pintando uma estrela com tentáculos de polvo, sendo que pende em sua na base interna, em tipo a palavra “Estética”; a outra equivalente forma, diretamente oposta, tingida em negro ostenta em negativo a forma tipográfica que contém a centelha que me aproxima de um humano, outrem como eu, “Humberto Eco”.


Domingo 28 de junho de 2010

Informação racionalmente processada

O presente trabalho, inicialmente, teve por objetivo investigar a linguagem. Contudo, e evidentemente, a Linguagem enquanto construto configura-se excessivamente abrangente para o tratamento stricto senso. Assim, optamos por um recorte metodológico advindo do próprio contato com o fenômeno estudado, o que se justifica na media em que a linguagem é conforme Eco (??) toda forma de social de comunicação (ver definição de linguagem e colocar aqui). Trataremos então de um aspecto da linguagem

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CITADAS OU CONSULTADAS

BENJAMIN, Walter. O Narrador: considerações sobre a obra de Nikolai Leskov. In: Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1994, p. 197-221.

ECO, Umberto. Tratado geral de semioticaa. 4. ed.. Sao Paulo: Perspectiva, 2002. 282 p. (Estudos73) ISBN 8527301202 (broch.)

GUINSBURG, Jacó; COELHO NETTO, J. Teixeira; CARDOSO, Reni Chaves. Semiologia do teatro. 2. ed. rev. e aum. São Paulo, SP: Perspectiva, 1988. 380 p.

GREINER, Christine; BIÃO, Armindo Jorge; KANAU, Abel. Etnocenologia: textos selecionados. São Paulo: Annablume, 1998. 193 p. ISBN 8574190543 (broch.)

LARROSA, Jorge. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira de Educação, jan/fev/mar/abr, n.19, 2002b.

SANTAELLA, Lúcia. A teoria geral dos signos: como as linguagens significam as coisas. São Paulo, SP: Pioneira, 2000. 153 p. ISBN 8522102244 (broch.)

SANTAELLA, Lucia. O que é semiótica. 5. ed. São Paulo: Brasiliense, 1987. 114 p.

SALLES, João Moreira. Informação x Experiencia. Disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=J6cjVR_tTxc. Acesso em: 04 de junho de 2010.

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