sábado, 30 de maio de 2009

Teste projetivo? Que nada, veja perfil do Orkut

Escrevi este conto para o blog http://psicologiaecibercultura.blogspot.com/
Vou copiar e colar meu próprio trabalho.... rsr


Teste projetivo? Que nada, veja o perfil do Orkut

No tempo em eu que trabalhava com programação, lá pelos idos da década de oitenta, computador era um negócio grande, com tela verde e que só recebia comandos através de extensas linhas de códigos, que só faziam sentido para quem trabalhava com eles ou para quem sonhava em trabalhar com eles, alguns Nerds solitários. Depois que perdi o emprego na área de processamento de dados fui estudar psicologia e nunca mais cheguei perto de um computador. Li Marx, me formei, fui psicanalisado como todo bom psicólogo da minha geração, montei um consultório e passei a viver da clínica. Mas eis que de uns tempos pra cá o tal do computados surgiu novamente na minha vida.

 

Primeiro foi com Ana, uma adolescente de quinze anos. Ela chegou até mim encaminhada pela pedagoga da escola, que me comunicou naquela ocasião que a menina estava tendo sérios problemas de ajuste social, pois quase não conversava com ninguém na escola, a ponto do fato ser notado pelos professores e virar motivo de gracejos entre os alunos. Logo na primeira entrevista ela, sem que eu perguntasse, começou a falar sobre Internet, MSN, Orkut, comunidades virtuais... Falou que não se sentia de maneira nenhuma sozinha, pois todos os dias conversava horas e horas com pessoas do mundo todo. Sem compreender direito aquelas referencias simbólicas que ela me passava fui atendendo. Em outra consulta quando pedi para que ela falasse da sua passagem pela puberdade, algo entre os onze e trezes anos, no seu caso, ela me falou que isso não fora um problema muito grande porque ela sabia como tinha sido para um monte de amigas. Na pista dessas amigas tentei investigar suas relações com os grupos em que ela estava inserida, pra ver de que forma isso estava influenciando na construção da sua identidade. Ela começou a me falar que tinha afinidade com leitores de um tal de Tolkien, que prezava bastante pela ética dos aborígenes australianos e que assim que sua mãe deixasse ela se maquiar ela iria se sentir melhor, pois suas melhores amigas eram góticas londrinas e ela queria poder se sentir verdadeiramente parte “da galera” quando fosse para o intercâmbio na Inglaterra. Depois da Ana, as mesmas referências a esse mundo virtual surgiram nas falas de Joana, Gisele e João Henrique. Todos adolescentes entre treze e quinze anos de idade, filhos de pais separados com altíssimo poder aquisitivo.

 

Depois de mais ou menos um mês com esses pacientes suspendi os atendimentos a adolescentes, pois percebi que algo estava errado, não com os adolescentes, mas comigo. Era evidente que alguma coisa estava acontecendo, aqueles pacientes não estavam mais referencializando suas identidades em grupos sociais locais, mas sim em lugares que eu não fazia idéia de onde ficavam. Para eles era como se o mundo tivesse expandido de tal forma que as relações com seus pares próximos haviam se tornado não mais as essenciais, mas apenas mais uma das possíveis.

 

Como não tinha filhos naquela época, e mesmo se tivesse eles não teriam acesso àquelas referencias pois eu não era rico, fui conversar com alguns adolescentes filhos de amigos meus para ver se era um fenômeno generalizado. Não era. Pelo menos não para a classe média. Procurei alguns colegas e vi que apenas um havia passado por situação semelhante, e mesmo assim sem atribuir tanta importância. Fiquei mais calmo. Mas logo em seguida perdi a calma. Minha principal clientela era de adolescentes e crianças filhas de pessoas verdadeiramente ricas, como eu ia manter minha clientela se ela estava falando em um idioma que eu não conhecia. Pior, ela estava vivendo em uma cultura que estava direcionando a formação de sua identidade e eu não fazia a mínima idéia de como operar com a lógica ali presente.

 

E foi quando o computador voltou à minha vida. Procurei um amigo da época em que trabalhava com programação. Primeiro ele riu muito de mim, mas depois saímos para tomar algumas cervejas e ele me explicou por muitas horas o que era Internet, o tal do mundo virtual, me falou da revolução das janelas e de como ele achava que num futuro próximo não só os ricos estariam falando como meus pacientes, mas todas as pessoas do mundo. Claro que eu achei tudo aquilo um exagero, mas como eu precisava garantir meus trocados fiz um acordo com ele. Ele me ensinaria na prática a lógica do mundo virtual e em troca eu faria um acompanhamento psico-pedagógico à sua filha pequena, que estava tendo dificuldades de aprendizagem. Foi o melhor acordo que fiz na vida.

 

Depois de dois ou três anos as previsões do meu amigo se confirmaram, e vejam, eu estava na frente. Quando uma quantidade crescente de pais começou a bater na porta dos consultórios psiquiátricos e psicológicos atrás de ajuda para compreender seus filhos eu já estava a pleno vapor, atendendo a geração Internet. Não demorou para eu ganhar renome e agora posso cobrar três vezes mais por uma consulta, afinal ainda não existem muitos especialistas em adolescentes com crise de identidade-virtual.

 

Escrito e Postado Por Ítalo Mazoni

 

sexta-feira, 29 de maio de 2009

O silêncio que ninguém ouviu

O Silêncio (Arnaldo Antunes)

antes de existir Computador existia a tevê
antes de existir tevê existia luz elétrica
antes de existir luz elétrica existia bicicleta
antes de existir bicicleta existia enciclopédia
antes de existir enciclopédia existia alfabeto
antes de existir alfabeto existia a voz
antes de existir a voz existia o silêncio
o silêncio
foi a primeira coisa que existiu
O silêncio que ninguém ouviu
astro pelo céu em movimento
e o som do gelo derretendo
o barulho do cabelo em crescimento
e a música do vento
e a matéria em decomposição
a barriga digerindo o pão
explosão de semente sobre o chão
diamante nascendo do carvão
homem pedra planta bicho flor
luz elétrica tevê computador
batedeira liquidificador
vamos ouvir esse silêncio meu amor
amplificado no amplificador
do estetoscópio do doutor
no lado esquerdo do peito esse tambor

terça-feira, 26 de maio de 2009

" "

Já tem algum tempo que não me sinto assim, bem. Não que eu esteja cem por cento de mim... Mas pelo menos estou ativo... Adotei a filosofia do "silêncio interior". Tem funcionado... Na prática eu estou a seguir um conselho que ouvi de algum falante do espanhol durante um ritual com Ayuasca, há tempos atrás. Depois de já termos bebido e dançado, formou-se uma roda de conversa entre os que ali figuravam naquela noite... Os iniciantes falando da experiência que estavam vivendo e os mais antigos no ritual os acolhendo e transmitindo suas vivencias... O hispânico era um dos mais antigos e depois de uma pausa de todas as fala disse "El secreto para sentirse bien durante el ritual se encuentra en Porter". Todos os neófitos se olharam e um perguntou "como assim?". O velho sorriu e continuou com seu espanhol arrastado "Todo el tiempo nuestra conciencia recibe una gran cantidad de información, pensamientos y sentimientos. El secreto es poner en la puerta de la mente, un guardián responsable, lo que deja entrar sólo lo que importa. Lo que está mal, no entra. Sólo que está dejando al portero. ¿Quién le dice el portero? Yo soy ...". Todos riram e eu contratei o melhor porteiro que existe... O silêncio.

sábado, 23 de maio de 2009

Quero o fim...

As paredes estão me apertando. Tem uma boca que não para de falar em meu ouvido. A sandália dela está aqui. Meu corpo é um corpo diluído nessa imensa bolha de concreto e gente. Não quero mais aqui. Não quero mais agora. Onde será depois? A fumaça incomodou Fernado. Eu dormi no corredor. Minha amiga partiu ferindo a mim tanto quanto eu a cortei... Quero saber onde estarei amanhã...

terça-feira, 19 de maio de 2009

Moro em um mundo que vai acabar...


Moro em uma casa que vai deixar de ser minha casa em exatos dois anos e meio. Em breve nenhuma dessas paredes contará mais minha história porque eu não estarei aqui... Talvez haja amanhã em meu atual leito, um ocupante do meu lugar social de estudante beneficiário de uma política de assistência estudantil... E no final de dez anos, não haverá a minha história ou a dele... Mas apenas a de todos nós... Assim... O tiro que eu quase levei aqui de um vizinho nunca terá existido... O amor que um dia virou ódio, a varanda que tanto prazer guardou... Nada disso existirá... Onde estarei eu... Onde estará a Residência Universitária da UFBA em mim?

(Tela de Fernando Bernardes, Residente da R1 - UFBA)

Postado por Ítalo Mazoni em 19 de maio de 2009

segunda-feira, 18 de maio de 2009

A partida

Faz tanto tempo que não mantenho um blog que já nem sei mais o que postar... mas vamos hj de coisinhas pessoai... Depois eu arrumo um tema, ou mantenho as coisinhas pessoais... rs

Hoje não estou em casa, hoje não estou na Residência Universitária 5... De lá uma amiga e residente hoje se fôra... A primeira dos primeiros a partir... Em breve chegará a hora de mais um, de outra... e até mesmo a minha. É um momento que anseio e temo. Agora mesmo escrevo da casa de uma amiga... Aqui ela tem um quarto, um lugar com sua própria bagunça, um lugar onde ela pode projetar sua subjetividade em um espaço maior que a porta de um armário e o retângulo de uma cama... Mas aqui ela não tem um grupo de pessoas para conversar e brigar... Ela não tem hora para apagar a luz, mas também só tem o MSN para falar com alguém... Aqui ela tem uma geladeira, mas não tem café da manhã prontinho às seis horas... Aqui ela tem privacidade, mas não tem a "segurança" de um lugar para ficar até terminar a faculdade... Hoje quando vi Joana partir, assim, numa tarde de segunda... Sem alarde, sem aviso... Senti vontade de chorar... Senti vontade de estar no lugar dela, senti vontade de pedir para que ela não fosse... Senti vontade de partir... E senti o peso de não poder... Minha cara Joana, você estava entre os primeiros, entre aqueles vinte e poucos que fizeram surgir do nada uma Residência Universitária... Um lugar feito de sofrimento, assim como um lar.... Um lugar feito de alegrias e tristezas assim como uma casa de família, um lugar onde passamos bons e maus momentos em busca de nossos sonhos... Sentirei saudades de ti minha Guerreira.... Sei que sempre estarás por perto, mas nunca mais no quarto ao lado... Obrigado por tudo.... Obrigado por ser a primeira a partir... Alguém sempre tem que tomar uma atitude, né?

Do seu sempre amigo...

Ítalo Mazoni em 19 de maio de 2009